Dicionário Teórico e Crítico de Cinema - Jacques Aumont Michel Marie
Tempo
O filme é “a única experiência em que o tempo me é dado como uma percepção” (Schefer 1999); ver um filme é ver o tempo passar. São poucas, portanto, as reflexões teóricas sobre o cinema que não abordam, ao menos indiretamente, a relação entre cinema e tempo; é, notadamente, o caso de todas as teorias da montagem e das teorias da narrativa. Um estudo mais direto refere-se a três tipos principais, conforme o aspecto retido da própria noção de tempo.
O tempo como medida
É a maneira mais formal de considerar o tempo fílmico, e ela leva, no mais das vezes, a observar as discrepâncias entre o tempo fílmico e o tempo real (tempo da narrativa fílmica/tempo da história, por exemplo). Os teóricos do cinema mudo frisaram com frequência as possibilidades expressivas oferecidas pela aceleração ou pela câmera lenta (Epstein, Vertov). Outro caso particular o da reversão do tempo fílmico, foi frequentemente considerado também, por causa de seu próprio fascínio, mas, em termos de medida do tempo, ele não diz nada além do acelerado e da câmera lenta: o tempo do filme não é o da realidade (Arnheim 1932; Rinieri 1953).
O Tempo como experiência
Nossa experiência do tempo em geral é complexa. Existem certos “relógios biológicos”, que regulam certos ritmos fisiológicos, mas nossa apreensão do tempo resulta da percepção de sequências de acontecimentos, que foram, por vezes, considerados a única realidade material, “ o tempo” procedendo, em geral, da construção simbólica da “instrumentação” mental (Nobert Elias).
A psicologia empírica distingue quatro grandes modos de experiência temporal: o presente, fundado na memória imediata e na apreensão dos intervalos temporais breves; a duração, experiência normal do tempo que passa, implicando a memória a longo prao; a perspectiva temporal, ou “ experiência do futuro” determinada social e culturalmente; enfim, a diferenciação entre simultaneidade e sucessão. O cinema faz eco a esses quatro modos, para os quais ele inventou formas originais (por exemplo, o plano prolongado ou a mistura de imagens), e as teorias do cinema retomam mais ou menos essas categorizações, insistindo no tempo vivido (Mitry). A maioria salienta o caráter de realidade do tempo fílmico – tempo físico da projeção – como principal fator de diferenciação entre cinema, romance e teatro: além disso, o filme narrativo modela o tempo, impondo-lhe um ritmo, transformando-o pela montagem, em geral pela utilização de uma “linguagem” cinematográfica; o tempo do filme de ficção é “ a sugestão de um tempo fictício”, que compreende fragmentos de duração... (continua)
O filme é “a única experiência em que o tempo me é dado como uma percepção” (Schefer 1999); ver um filme é ver o tempo passar. São poucas, portanto, as reflexões teóricas sobre o cinema que não abordam, ao menos indiretamente, a relação entre cinema e tempo; é, notadamente, o caso de todas as teorias da montagem e das teorias da narrativa. Um estudo mais direto refere-se a três tipos principais, conforme o aspecto retido da própria noção de tempo.
O tempo como medida
É a maneira mais formal de considerar o tempo fílmico, e ela leva, no mais das vezes, a observar as discrepâncias entre o tempo fílmico e o tempo real (tempo da narrativa fílmica/tempo da história, por exemplo). Os teóricos do cinema mudo frisaram com frequência as possibilidades expressivas oferecidas pela aceleração ou pela câmera lenta (Epstein, Vertov). Outro caso particular o da reversão do tempo fílmico, foi frequentemente considerado também, por causa de seu próprio fascínio, mas, em termos de medida do tempo, ele não diz nada além do acelerado e da câmera lenta: o tempo do filme não é o da realidade (Arnheim 1932; Rinieri 1953).
O Tempo como experiência
Nossa experiência do tempo em geral é complexa. Existem certos “relógios biológicos”, que regulam certos ritmos fisiológicos, mas nossa apreensão do tempo resulta da percepção de sequências de acontecimentos, que foram, por vezes, considerados a única realidade material, “ o tempo” procedendo, em geral, da construção simbólica da “instrumentação” mental (Nobert Elias).
A psicologia empírica distingue quatro grandes modos de experiência temporal: o presente, fundado na memória imediata e na apreensão dos intervalos temporais breves; a duração, experiência normal do tempo que passa, implicando a memória a longo prao; a perspectiva temporal, ou “ experiência do futuro” determinada social e culturalmente; enfim, a diferenciação entre simultaneidade e sucessão. O cinema faz eco a esses quatro modos, para os quais ele inventou formas originais (por exemplo, o plano prolongado ou a mistura de imagens), e as teorias do cinema retomam mais ou menos essas categorizações, insistindo no tempo vivido (Mitry). A maioria salienta o caráter de realidade do tempo fílmico – tempo físico da projeção – como principal fator de diferenciação entre cinema, romance e teatro: além disso, o filme narrativo modela o tempo, impondo-lhe um ritmo, transformando-o pela montagem, em geral pela utilização de uma “linguagem” cinematográfica; o tempo do filme de ficção é “ a sugestão de um tempo fictício”, que compreende fragmentos de duração... (continua)