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Tempo - uma trajetória onto-lógica
Laura Rocha - Proposta de trabalho de conclusão de curso - Comunicação Social - Cinema e Mídias Digitais
Apresentação do tema e abordagem
O que é o tempo? Como ele interage com a semiótica no Cinema? O objetivo da pesquisa é responder essas duas questões. Na primeira parte será analisado o conceito de “tempo”, partindo dos pré-socráticos, passando por Platão e Aristóteles, Santo Agostinho, Isaac Newton, Emannuel Kant, Martin Heidegger, Einstein, Bergson, Merleau-ponty, até chegar em Deleuze. Como é obvio não há espaço nem tempo para realizar uma trajetória completa, a intenção é resumir na primeira parte do trabalho, a concepção de tempo através da história da filosofia, selecionando alguns grandes pensadores e analisar a definição de tempo de cada um deles.
Visando desconstruir o conceito de tempo como entidade física alheia à percepção, a pesquisa segue uma linha fenomenológica. Segundo Kant na Crítica da Razão Pura, o tempo é uma faculdade da intuição, é a priori, está no interior do ser que percebe, ou usando uma linguagem heideggeriana, o tempo está no Dasein, o ser-aí, que percebe o mundo. É certo que o pensamento de Kant foi contestado por Deleuze no que toca sua metafísica. É conhecido também que a ontologia fenomenológica hermenêutica de Heidegger se difere da crítica kantiana, mas não são essas divergências o foco da pesquisa. Em Ser e Tempo, Heidegger diz que a temporalidade é o Ser do Dasein. Dasein é aquele que é no mundo. E não é possível falar de Dasein ou de temporalidade sem falar de percepção e fenomenologia. Merleau-Ponty no livro Fenomenologia da Percepção dedica um capítulo inteiro para tratar da questão da temporalidade.
O conceito de tempo na filosofia se difere do conceito de tempo na física. Onde o tempo é usado para medir o movimento através do espaço; A marcação do tempo não é o tempo em si. O tempo em si está no ente que percebe os fenômenos. Sendo o movimento um fenômeno, é necessário um observador para determinar um referencial estático, e só assim poder dizer que algo se move. A teoria da relatividade de Einstein mostrou que o tempo não é o mesmo para dois referenciais diferentes. Nem o movimento é o mesmo, dependendo do referencial. Embora o tempo seja quantificado, seja atribuído uma unidade de medida, este tempo sempre dependerá de um referencial o que o torna subjetivo. Henri Bergson, em Duração e Simultaneidade, analisa a teoria da relatividade restrita e geral de Einstein, assim como o teorema de Lorentz, e expõe vários paradoxos causados por essa concepção de tempo amalgamada com o espaço, o tempo-espaço.
Em Timeo, Platão define o tempo como o movimento dos astros. O tempo estaria assim ligado ao movimento. A ontologia dos eleatas como Parmênides e Zenão, defendia o Ser como algo imutável, eterno, absoluto, etc... O paradoxo de zenão mostra a impossibilidade do movimento, pois requer a divisão e subdivisão infinita do espaço. Conclui assim que o movimento é uma ilusão. Essa confusão se dá por causa da ontologia do ser como eterno, imutável, absoluto. O tempo eterno não tem duração, não tem sucessão, não tem devir. Nessa ontologia eleata, o devir é absurdo pois nega o princípio aristotélico da identidade, onde o ser é igual a si mesmo. Heráclito, um pré-socrático, conhecido pela alegoria do homem que não entra duas vezes no mesmo rio. Falava do devir como essência do ser, foi considerado obscuro. A lógica aristotélica não aceita o movimento dialético do ser: ele é, deixa de ser, torna-se não-ser, torna-se outro. A dualidade platônica divide a realidade em mundo das ideias e mundo dos fenômenos. (ilustrada pela celebre alegoria da caverna, onde as sombras seriam os fenômenos, e as coisas reais seriam os nomenos, a forma ideal daquele ser, o arquétipo original do qual as sombras/fenômenos seriam apenas cópias imperfeitas.) Ambos pertencem ainda a ontologia dos eleatas, que defendiam o ser como igual a ele mesmo e imutável, eterno, absoluto, etc. Sendo assim só poderiam considerar o devir uma ilusão, um paradoxo, ilógico por ferir o principio de identidade, não contradição e terceiro excluído da lógica aristotélica. Só os fenômenos teriam essa duração, mutabilidade.
Na verdade, tudo muda, até a ontologia mudou, o idealismo perdeu seu lugar, e a ontologia aproximou-se do fenômeno, destacando como fenômeno tudo aquilo que se manifesta na consciência. A fenomenologia, busca entender os fenômenos através da consciência que os percebe. Não buscam apenas conhecer o ser em si (alguns afirmam que isso é impossível) mas a consciência em si. As teorias epistemológicas com seus ensaios acerca do entendimento/conhecimento humano, (Berkeley, Locke, Leibniz) quebraram o paradigma de tentar conhecer o objeto em si (essência do ser), e voltou a reflexão para a maneira como o conhecimento, entendimento, se dá na razão humana. Deleuze escreveu dois livros voltados para o cinema, os títulos são conceitos bergsonianos tirados do livro Matéria e Memória de Henri Bergson. São eles: Imagem-Movimento – cinema 1 e Imagem-Tempo – cinema 2. Paginando os capítulos e lendo o índice, vejo que Deleuze fala de decoupage, montagem, plano, enquadramento e o principal é que relaciona a linguagem cinematográfica à semiótica de J. S.Peirce, assim como fez Christian Metz, A Significação no Cinema, Cinema e Semiótica. Peirce usava outra palavra para se referir ao conceito de fenômeno e fenomenologia, faneron*, mas sua teoria dos signos não poderia ficar de fora de nenhuma analise teórica do Cinema. A primeiridade, secundidade, e terceiridade descritas por Peirce, é a forma como o sujeito percebe o objeto e o contextualiza, concebe uma ideia a partir de um símbolo, ou indício na trama, prevê um acontecimento, ou possibilidade iminente de acontecer algo específico.
No livro Significação no Cinema de Metz, o primeiro capítulo fala sobre a impressão de realidade no cinema, que é maior que na fotografia por possuir movimento. O movimento não pode ser reproduzido, apenas produzido, o movimento diferente da imagem é sempre atual. Ao contrario da fotografia que dispõe segundo Roland Barthes, um “ter-sido-aqui” , a fotografia é uma nova categoria do espaço-tempo: local imediato e temporal anterior: na fotografia concretiza-se a conjunção ilógica do aqui e do outrora. É o que explica a irrealidade real da fotografia. A parte de realidade deve ser procurada do lado da anterioridade temporal; o que a fotografia mostra foi realmente assim, um dia, diante da objetiva. A fotografia, o meio mecânico, limitou-se a registrar o momento e trazê-lo até nós. Quanto a irrealidade, se deve à “ ponderação temporal” (as coisas foram assim mas não são mais), bem como a consciência do aqui. A fotografia nunca é vivida como uma ilusão autêntica. Sabemos muito bem que o que nos é apresentado não está verdadeiramente aqui. Por isso a fotografia é bem diferente do cinema, arte ficcional e narrativa. O espectador não apreende um ter-sido-aqui, mas um ser-aqui vivo. Além dos filósofos tradicionais, livros como Esculpir o Tempo – Tarkovisk, O sentido do Filme Einsenstein, também serão consultados, para levarmos o assunto do tempo para dentro da teoria da montagem e da criação cinematográfica.
Concluindo: A pesquisa será teórica, a fonte serão livros e textos que falem do assunto: o tempo. Em seguida as ideias apresentadas nas fontes serão interpretadas e comparadas com outras. Partindo da filosofia e pousando na Teoria do Cinema, a trajetória será feita através de vários autores, livros e textos.
Apresentação do tema e abordagem
O que é o tempo? Como ele interage com a semiótica no Cinema? O objetivo da pesquisa é responder essas duas questões. Na primeira parte será analisado o conceito de “tempo”, partindo dos pré-socráticos, passando por Platão e Aristóteles, Santo Agostinho, Isaac Newton, Emannuel Kant, Martin Heidegger, Einstein, Bergson, Merleau-ponty, até chegar em Deleuze. Como é obvio não há espaço nem tempo para realizar uma trajetória completa, a intenção é resumir na primeira parte do trabalho, a concepção de tempo através da história da filosofia, selecionando alguns grandes pensadores e analisar a definição de tempo de cada um deles.
Visando desconstruir o conceito de tempo como entidade física alheia à percepção, a pesquisa segue uma linha fenomenológica. Segundo Kant na Crítica da Razão Pura, o tempo é uma faculdade da intuição, é a priori, está no interior do ser que percebe, ou usando uma linguagem heideggeriana, o tempo está no Dasein, o ser-aí, que percebe o mundo. É certo que o pensamento de Kant foi contestado por Deleuze no que toca sua metafísica. É conhecido também que a ontologia fenomenológica hermenêutica de Heidegger se difere da crítica kantiana, mas não são essas divergências o foco da pesquisa. Em Ser e Tempo, Heidegger diz que a temporalidade é o Ser do Dasein. Dasein é aquele que é no mundo. E não é possível falar de Dasein ou de temporalidade sem falar de percepção e fenomenologia. Merleau-Ponty no livro Fenomenologia da Percepção dedica um capítulo inteiro para tratar da questão da temporalidade.
O conceito de tempo na filosofia se difere do conceito de tempo na física. Onde o tempo é usado para medir o movimento através do espaço; A marcação do tempo não é o tempo em si. O tempo em si está no ente que percebe os fenômenos. Sendo o movimento um fenômeno, é necessário um observador para determinar um referencial estático, e só assim poder dizer que algo se move. A teoria da relatividade de Einstein mostrou que o tempo não é o mesmo para dois referenciais diferentes. Nem o movimento é o mesmo, dependendo do referencial. Embora o tempo seja quantificado, seja atribuído uma unidade de medida, este tempo sempre dependerá de um referencial o que o torna subjetivo. Henri Bergson, em Duração e Simultaneidade, analisa a teoria da relatividade restrita e geral de Einstein, assim como o teorema de Lorentz, e expõe vários paradoxos causados por essa concepção de tempo amalgamada com o espaço, o tempo-espaço.
Em Timeo, Platão define o tempo como o movimento dos astros. O tempo estaria assim ligado ao movimento. A ontologia dos eleatas como Parmênides e Zenão, defendia o Ser como algo imutável, eterno, absoluto, etc... O paradoxo de zenão mostra a impossibilidade do movimento, pois requer a divisão e subdivisão infinita do espaço. Conclui assim que o movimento é uma ilusão. Essa confusão se dá por causa da ontologia do ser como eterno, imutável, absoluto. O tempo eterno não tem duração, não tem sucessão, não tem devir. Nessa ontologia eleata, o devir é absurdo pois nega o princípio aristotélico da identidade, onde o ser é igual a si mesmo. Heráclito, um pré-socrático, conhecido pela alegoria do homem que não entra duas vezes no mesmo rio. Falava do devir como essência do ser, foi considerado obscuro. A lógica aristotélica não aceita o movimento dialético do ser: ele é, deixa de ser, torna-se não-ser, torna-se outro. A dualidade platônica divide a realidade em mundo das ideias e mundo dos fenômenos. (ilustrada pela celebre alegoria da caverna, onde as sombras seriam os fenômenos, e as coisas reais seriam os nomenos, a forma ideal daquele ser, o arquétipo original do qual as sombras/fenômenos seriam apenas cópias imperfeitas.) Ambos pertencem ainda a ontologia dos eleatas, que defendiam o ser como igual a ele mesmo e imutável, eterno, absoluto, etc. Sendo assim só poderiam considerar o devir uma ilusão, um paradoxo, ilógico por ferir o principio de identidade, não contradição e terceiro excluído da lógica aristotélica. Só os fenômenos teriam essa duração, mutabilidade.
Na verdade, tudo muda, até a ontologia mudou, o idealismo perdeu seu lugar, e a ontologia aproximou-se do fenômeno, destacando como fenômeno tudo aquilo que se manifesta na consciência. A fenomenologia, busca entender os fenômenos através da consciência que os percebe. Não buscam apenas conhecer o ser em si (alguns afirmam que isso é impossível) mas a consciência em si. As teorias epistemológicas com seus ensaios acerca do entendimento/conhecimento humano, (Berkeley, Locke, Leibniz) quebraram o paradigma de tentar conhecer o objeto em si (essência do ser), e voltou a reflexão para a maneira como o conhecimento, entendimento, se dá na razão humana. Deleuze escreveu dois livros voltados para o cinema, os títulos são conceitos bergsonianos tirados do livro Matéria e Memória de Henri Bergson. São eles: Imagem-Movimento – cinema 1 e Imagem-Tempo – cinema 2. Paginando os capítulos e lendo o índice, vejo que Deleuze fala de decoupage, montagem, plano, enquadramento e o principal é que relaciona a linguagem cinematográfica à semiótica de J. S.Peirce, assim como fez Christian Metz, A Significação no Cinema, Cinema e Semiótica. Peirce usava outra palavra para se referir ao conceito de fenômeno e fenomenologia, faneron*, mas sua teoria dos signos não poderia ficar de fora de nenhuma analise teórica do Cinema. A primeiridade, secundidade, e terceiridade descritas por Peirce, é a forma como o sujeito percebe o objeto e o contextualiza, concebe uma ideia a partir de um símbolo, ou indício na trama, prevê um acontecimento, ou possibilidade iminente de acontecer algo específico.
No livro Significação no Cinema de Metz, o primeiro capítulo fala sobre a impressão de realidade no cinema, que é maior que na fotografia por possuir movimento. O movimento não pode ser reproduzido, apenas produzido, o movimento diferente da imagem é sempre atual. Ao contrario da fotografia que dispõe segundo Roland Barthes, um “ter-sido-aqui” , a fotografia é uma nova categoria do espaço-tempo: local imediato e temporal anterior: na fotografia concretiza-se a conjunção ilógica do aqui e do outrora. É o que explica a irrealidade real da fotografia. A parte de realidade deve ser procurada do lado da anterioridade temporal; o que a fotografia mostra foi realmente assim, um dia, diante da objetiva. A fotografia, o meio mecânico, limitou-se a registrar o momento e trazê-lo até nós. Quanto a irrealidade, se deve à “ ponderação temporal” (as coisas foram assim mas não são mais), bem como a consciência do aqui. A fotografia nunca é vivida como uma ilusão autêntica. Sabemos muito bem que o que nos é apresentado não está verdadeiramente aqui. Por isso a fotografia é bem diferente do cinema, arte ficcional e narrativa. O espectador não apreende um ter-sido-aqui, mas um ser-aqui vivo. Além dos filósofos tradicionais, livros como Esculpir o Tempo – Tarkovisk, O sentido do Filme Einsenstein, também serão consultados, para levarmos o assunto do tempo para dentro da teoria da montagem e da criação cinematográfica.
Concluindo: A pesquisa será teórica, a fonte serão livros e textos que falem do assunto: o tempo. Em seguida as ideias apresentadas nas fontes serão interpretadas e comparadas com outras. Partindo da filosofia e pousando na Teoria do Cinema, a trajetória será feita através de vários autores, livros e textos.